Sempre se falou muito da Nouvelle Vague. Por mais contraditório que fosse, o movimento que pregava a revolução estética e estrutural do cinema francês tinha certo apelo. De tão influente, inspirou propostas similares fora da França, respingou em Hollywood e mudou o curso do cinema. Ainda assim, nunca prezou pela unidade de estilo. E o termo virou um mero chavão para definir a importância de François Truffaut, Jean-Luc Godard, Alain Resnais ou Éric Rohmer no contínuo processo de afirmação da sétima arte. Afinal, o que é Nouvelle Vague?
Na maior onda de renovação que se tem notícia na França, 170 cineastas estrearam em longa-metragem entre 1958 e 1962. O jornalista Pierre Billard pressentiu o fenômeno, o qual batizou de nouvelle vague ("nova onda"), em fevereiro de 1958. No entanto, a ânsia de entender e/ou rotular os franceses na faixa dos 20 anos perseguia a grande imprensa desde 1957, quando Françoise Giroud lançou a expressão em análise sobre os sonhos daquela geração como um todo. Aplicada por Billard aos jovens diretores do período, ela abarcou tudo: de adeptos da comédia a intelectuais com forte pegada autoral.
Os principais nomes do grupo começaram na crítica cinematográfica. Dela se serviriam, mais tarde, para despontar como realizadores, num mercado tomado por profissionais ultrapassados. Todos queriam romper com o controle rígido dos sindicatos e com um modelo de cinema, de viés industrial, que apresentava sinais inequívocos de estagnação. Insolentes, eles queriam um lugar ao sol. Passado o modismo, já em 1963, poucos haviam garantido um lugar na História.
Qual é o legado deles? Truffaut, Godard e Rohmer expandiram as fronteiras do cinema com uma abordagem moral provocante - assim como Louis Malle. Godard ainda se sobressaiu com o projeto vitalício de implosão das convenções técnicas e sociais, inaugurado com Acossado, enquanto Resnais plantou (com Hiroshima Meu Amor e Ano Passado em Marienbad) uma série de desafios conceituais que nem ele superou.
Com a premissa de ir além das homenagens, Nouvelle Vague Ontem e Hoje propõe uma reflexão em torno da geração que subverteu tanto a forma de fazer filmes quanto a forma de vê-los - exatamente 50 anos atrás. Com 19 longas, a programação se divide em duas. Predominam os filmes que consagraram o movimento e seus líderes. Eles são dispostos ao lado de quatro títulos produzidos recentemente, que prolongam o alcance de uma era em que questionar padrões era um ato vital.
Os Incompreendidos, França, P&B, 1959
Direção: François Truffaut.
Roteiro: François Truffaut, Marcel Moussy.
Fotografia: Henri Decaë.
Montagem: Marie-Josèphe Yoyotte.
Elenco: Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy.
Jules e Jim, França, P&B, 1962
Direção: François Truffaut.
Roteiro: François Truffaut, Jean Gruault.
Fotografia: Raoul Coutard.
Montagem: Claudine Bouché.
Elenco: Jeanne Moreau, Oskar Werner, Henri Serre, Vanna Urbino.
Ascensor para o Cadafalso, França, P&B, 1958
Direção: Louis Malle.
Roteiro: Louis Malle, Roger Nimier.
Fotografia: Henri Decaë.Montagem: Léonide Azar.
Elenco: Jeanne Moreau, Maurice Ronet, Georges Poujouly.
Trinta Anos Esta Noite, França, P&B, 1963
Direção: Louis Malle.
Roteiro: Louis Malle. Fotografia: Ghislain Cloquet.
Montagem: Suzanne Baron.
Elenco: Maurice Ronet, Léna Skerla, Yvonne Clech.
Hiroshima Meu Amor, França, P&B, 1959
Direção: Alain Resnais.
Roteiro: Marguerite Duras.
Fotografia: Sacha Vierny, Michio Takahashi.
Montagem: Anne Sarraute, Henri Colpi, Jasmine Chasney.
Elenco: Emmanuelle Riva, Eiji Okada, Stella Dassas.
Ano Passado em Marienbad, França, P&B, 1961
Direção: Alain Resnais.
Roteiro: Alain Robbe-Grillet.
Fotografia: Sacha Vierny.
Montagem: Henri Colpi, Jasmine Chasney.
Elenco: Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi, Sacha Pitoëff.
Acossado França, P&B, 1960
Direção: Jean-Luc Godard.
Roteiro: François Truffaut.
Fotografia: Raoul Coutard.
Montagem: Cécile Decugis.
Elenco: Jean-Paul Belmondo, Jean Seberg, Daniel Boulanger, Jean-Pierre Melville.
Uma Mulher é uma Mulher, França, Cor, 1961
Direção: Jean-Luc Godard.
Roteiro: Jean-Luc Godard.
Fotografia: Raoul Coutard.
Montagem: Agnès Guillemot .
Elenco: Anna Karina, Jean-Claude Brialy, Jean-Paul Belmondo.
O Desprezo França, Cor, 1963
Direção: Jean-Luc Godard.
Roteiro: Jean-Luc Godard.
Fotografia: Raoul Coutard.
Montagem: Agnès Guillemot.
Elenco: Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Jack Palance, Fritz Lang
Cléo das 5 às 7 França, P&B, 1961
Direção: Agnès Varda. Roteiro: Agnès Varda.
Fotografia: Jean Rabier, Alain Levent.
Montagem: Pascale Laverrière, Janine Verneau.
Elenco: Corinne Marchand, Antoine Bourseiller, Dominique Davray.
Mulheres Fáceis, França, P&B, 1960
Direção: Claude Chabrol.
Roteiro: Claude Chabrol, Paul Gégauff.
Fotografia: Henri Decaë.
Montagem: Gisèle Chézeau, Jacques Gaillard, Claude Le Moro.
Elenco: Bernadette Lafont, Clotilde Joano, Stéphane Audran.
O Signo de Leão, França, P&B, 1959
Direção: Éric Rohmer.
Roteiro: Éric Rohmer, Paul Gégauff.
Fotografia: Nicolas Hayer.
Montagem: Anne-Marie Cotret.
Elenco: Jess Hahn, Michèle Girardon, Van Doude.
A Colecionadora, França, Cor, 1967
Direção: Éric Rohmer.
Roteiro: Éric Rohmer, Patrick Bauchau, Haydée Politoff, Daniel Pommereulle.
Fotografia: Néstor Almendros.
Montagem: Jacquie Raynal.
Elenco: Patrick Bauchau, Haydée Politoff, Daniel Pommereulle.
Minha Noite Com Ela, França, P&B, 1969
Direção: Éric Rohmer.
Roteiro: Éric Rohmer.
Fotografia: Néstor Almendros.
Montagem: Cécile Decugis.
Elenco: Jean-Louis Trintignant, Françoise Fabian, Marie-Christine Barrault.
Amantes Constantes, França, P&B, 2005
Direção: Philippe Garrel.
Roteiro: Philippe Garrel, Arlette Langmann, Marc Cholodenko.
Fotografia: William Lubtchansky.
Montagem: Philippe Garrel, Françoise Collin.
Elenco: Louis Garrel, Clotilde Hesme, Julien Lucas.
Louise (Take 2), França, Cor, 1998
Direção: Sieg fried.
Roteiro: Sieg fried.
Fotografia: Sieg fried, Hervé Lode, Vincent Buron.
Montagem: Hervé Schneid.
Elenco: Élodie Bouchez, Roschdy Zem, Antoine du Merle.
Os Sonhadores, França/EUA, Cor, 2003
Direção: Bernardo Bertolucci.
Roteiro: Gilbert Adair.
Fotografia: Fabio Cianchetti.
Montagem: Jacopo Quadri.
Elenco: Michael Pitt, Eva Green, Louis Garrel.
Sangue Ruim, França, Cor, 1986
Direção: Leos Carax.
Roteiro: Leos Carax.
Fotografia: Jean-Yves Escoffier.
Montagem: Nelly Quettier.
Elenco: Michel Piccoli, Juliette Binoche, Denis Lavant, Julie Delpy
Patrocínio: Banco do Brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil
Concepção e curadoria: Gustavo Galvão
Produção: Lavoro Produções Artísticas
Produção executiva: Lara Pozzobon
Coordenação de produção: Simone Evan
Assistente de produção: Ana Arruda
Edição do catálogo: Gustavo Galvão
Textos: Gustavo Galvão
Consultor editorial: Bernardo Scartezini
Revisão de textos: Jandira Galvão
Assessoria de imprensa: Objeto Sim (Carmem Moretzsohn e Gioconda Caputo)
Design e produção gráfica: Anticorp Design
Fotos de divulgação: Cinemateca da Embaixada da França, Filmes do Estação, Fox Film, Imovision e Pandora Filmes